Anales del Instituto de Arte Americano e Investigaciones Estéticas
"Mario J. Buschiazzo"
Volumen 54 - Número 2 - Julio / Diciembre 2024
Facultad de Arquitectura, Diseño y Urbanismo.
Universidad de Buenos Aires.
ARTÍCULO
Espacios historiográficos en disputa: Las críticas a las obras de Germain Bazin sobre el barroco brasileño y la eficacia del discurso identitario del Iphan
Historiographical spaces in dispute: Criticism of Germain Bazin's works on the Brazilian Baroque and the efficacy of Iphan's identity discourse
Espaços historiográficos em disputa: As críticas às obras de Germain Bazin sobre o barroco brasileiro e a eficácia do discurso identitário do Iphan
María Sabina Uribarren *
https://orcid.org/0000-0002-0856-7269
* Museu Paulista de la Universidade de São Paulo, Brasil.
Arquitecta, Magíster y Doctora en Historia del Patrimonio Cultural por la Facultad de Arquitectura y Urbanismo de la Universidad de São Paulo (FAU-USP). Realizó estudios posdoctorales en el Museu Paulista de la misma universidad (MPUSP) en la línea “Historia del Imaginario”. Profesora de Historia de la Arquitectura y de Patrimonio Cultural en la Universidad Paulista (UNIP). Dictó y coordinó seminarios, conferencias y talleres en diversas instituciones (UNIP, PROLAM, Casa das Rosas, Consorcio Intermunicipal Grande ABC, UFABC). Fue coordinadora del Núcleo de Valorización del Departamento de Patrimonio Histórico de la Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Parque da Independência, s/n. São Paulo, CEP 04210-000. Brasil. Correo electrónico: msuribarren@alumni.usp.br
Este artículo es resultado de una investigación posdoctoral en Historia del Imaginario..
RECIBIDO: 3 de marzo de 2024.
ACEPTADO: 6 de mayo de 2024.
RESUMEN
Este artículo discute aspectos sobre la legitimación de espacios de autoridad en la construcción historiográfica del arte y la arquitectura colonial brasileña. El texto problematiza la historiografía sobre arte y patrimonio de Brasil a partir de reflexiones producidas en las décadas de 1940, 1950 y 1960 por el crítico Lourival Gomes Machado y el periodista Augusto de Lima Junior, que trae a colación la discusión suscitada en torno a los libros del historiador y curador en jefe del Museo del Louvre, Germain Bazin, sobre el barroco brasileño (1956,1958 y 1963).
Palabras clave: Augusto de Lima Junior; Barroco colonial; Brasil; Germain Bazin; Iphan; Lourival Gomes Machado.
Referencias espaciales y temporales: 1940; 1950; 1960; Brasil; Francia.
ABSTRACT
This article discusses aspects of the legitimation of spaces of authority in the historiographical construction of Brazilian colonial art and architecture. The text problematizes the historiography of art and heritage in Brazil based on reflections produced in the 1940s, 1950s and 1960s by the critic Lourival Gomes Machado and the journalist Augusto de Lima Junior. In this context, it brings to light the discussion that arose around the books of the historian and chief curator of the Louvre Museum, Germain Bazin, on the Brazilian Baroque (1956, 1958 and 1963).
Key words: Augusto de Lima Junior; Colonial Baroque; Brazil; Germain Bazin; Iphan; Lourival Gomes Machado.
Space and time references: 1940; 1950; 1960; Brazil; France.
RESUMO
Este artigo discute aspectos sobre a legitimação de espaços de autoridade na construção historiográfica da arte e da arquitetura colonial brasileira. O texto problematiza a historiografia sobre arte e patrimônio do Brasil a partir reflexões produzidas nas décadas de 1940, 1950 e 1960 pelo crítico Lourival Gomes Machado e pelo jornalista Augusto de Lima Junior. Traz à tona a discussão suscitada em volta dos livros do historiador e curador-chefe do Museu do Louvre, Germain Bazin, sobre o barroco brasileiro (1956, 1958 e 1963).
Palavras chave: Augusto de Lima Junior; Barroco colonial; Brasil; Germain Bazin; Iphan; Lourival Gomes Machado.
Referências espaciais e temporais: 1940; 1950; 1960; Brasil; França.
Os livros de Bazin no contexto da historiografia da arte colonial brasileira.
A história da arte colonial do Brasil foi incorporada pela primeira vez a um estudo geral da arte latino-americana por Mario J. Buschiazzo, em 1945, em um capítulo da obra Historia del arte hispano-americano, dirigida pelo pesquisador espanhol Diego Angulo Iñíguez. Na década de 1940, também se iniciou o desenvolvimento de um projeto editorial, de raízes brasileiras, que pretendia a ampla divulgação da produção artística do período colonial do país, centrada no barroco e na obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, além das fronteiras nacionais. Tal projeto objetivava colocar essa expressão artística em um patamar de igualdade com a arte erudita mundial.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi o gestor desse projeto, já que, além de dirigir as ações em prol da preservação do patrimônio desde a sua criação provisória em 1936,1 a instituição teve um papel fundamental na construção de uma historiografia da arte e da arquitetura do país, através das pesquisas e das propostas editoriais que dirigia e fomentava. Neste segundo sentido, o investimento numa produção impressa por parte do instituto,
Teve papel articulador de um debate entre intelectuais e propagandistas da ação institucional, implementado por meio de notícias, artigos e polêmicas na grande imprensa, assim como por meio das edições do SPHAN, que somavam o caráter legitimador ao caráter divulgador de um conhecimento especializado prescrito pela agência do Estado (Chuva, 2009, p. 245).
Conforme explica Chuva, os recursos aplicados pelo Iphan na produção de linhas editoriais deram como resultado a Revista do Patrimônio e a série denominada Publicações do Sphan (2009, p. 246); todavia, o instituto e seu primeiro diretor, Rodrigo Melo Franco de Andrade (1936-1969), também promoveram outros projetos de edição para a difusão de um conhecimento não apenas especializado, mas autorizado, fora dos locus de ação próprios. Esses projetos foram o inconcluso livro sobre arquitetura colonial brasileira de Robert C. Smith, a edição da obra As artes plásticas no Brasil e os livros de Germain Bazin sobre o barroco colonial brasileiro (Uribarren, 2018). Entre essas obras e projetos, L’architecture religieuse baroque au Brésil (Tomo I de 1956 e Tomo II de 1958) e Aleijadinho et la sculpture baroque au Brésil (1963), ambas de autoria de Bazin, indivíduo de grande autoridade por ser curador-chefe do Museu do Louvre, foram fundamentais2 para promover o reconhecimento internacional da arte colonial brasileira e referendar nacionalmente a construção discursiva que o Iphan desenvolvia sobre a identidade do país (Uribarren, 2022).
O longo percurso que transitou a produção e editoração dos livros do francês Bazin (os primeiros indícios sobre o projeto datam de 1945) foi consequência de terem sido desenvolvidos à distância, fruto da colaboração entre o pesquisador e o órgão do patrimônio brasileiro, em um processo não isento de dificuldades logísticas e comunicacionais, assim como de inconvenientes decorrentes do financiamento para a pesquisa e a sua publicação. O processo dependeu de uma miríade de correspondentes agenciados pelo Iphan, e do financiamento angariado por Assis Chateaubriand, diretor do conglomerado de imprensa Diários Associados e mecenas da empreitada.3
As obras de Bazin, após terem passado pelas dificuldades mencionadas, sofreram críticas no meio cultural brasileiro. Os senões se vincularam a questionamentos à metodologia de pesquisa, à legitimidade das fontes utilizadas e a alguns erros conclusivos, mas, fundamentalmente, se arraigaram no contexto de desaprovação que sofria o Iphan, instituição incentivadora da publicação, por parte de alguns intelectuais com pretensões de ingerência nos campos da história da arte e da preservação do patrimônio cultural do país. Neste sentido, no texto é analisado o embate protagonizado pelo sociólogo e crítico de arte Lourival Gomes Machado, que assumiu o papel de advogado do diabo em relação ao trabalho de Bazin e de defensor do Iphan, e pelo escritor e jornalista Augusto de Lima Junior, indivíduo com antiga animosidade contra o órgão de defesa do patrimônio e o seu diretor Rodrigo Melo Franco de Andrade. A situação mostra que, por detrás das críticas pretensamente objetivas, pairava o enfrentamento de figuras da elite cultural da época, pertencentes a diferentes espaços institucionais de produção de conhecimento histórico, que pretendiam tornar hegemônicos seus discursos e visões sobre o Brasil.
Vozes de legitimação e contestação à obra de Germain Bazin
O paulista Lourival Gomes Machado (1917-1967) foi cientista social e destacou-se pela produção intelectual na sua área de formação e na história e crítica da arte e da arquitetura. Foi, também, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e professor e diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). Seu interesse pelas artes pode ser identificado na sua participação na criação e direção da revista Clima (1941-1944), projeto com o qual, junto a Antônio Candido e Décio de Almeida Prado, entre outros, objetivava renovar a crítica tanto das artes plásticas, quanto da literatura, do cinema e do teatro do país.
Em 1948, publicou o texto Retrato da Arte Moderna do Brasil, obra na qual, ao reconhecer a renovação propiciada por esse movimento no país, articulava seu pensamento à esteira aberta por Mario de Andrade de valorizar o passado como forma de contribuir com a construção de uma identidade nacional. Foi nesse trabalho que manifestou seu interesse por Minas Gerais, “província misteriosa” (Machado, apud Iglésias, 1991, p. 21), cuja arte colonial ocupou grande parte da sua produção intelectual posterior. Seus primeiros textos sobre o barroco mineiro derivaram de uma viagem realizada à região em 1948 e eles foram publicados no jornal O Estado de São Paulo, dando passo, no ano seguinte, a uma série de artigos para o mesmo veículo de imprensa, cujo conjunto intitulou-se O barroco e o absolutismo. O trabalho do crítico de arte beneficiou-se, segundo Francisco Iglésias, “pela nova mentalidade que leva à organização da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” (1991, p. 21), instituição de cujos colaboradores e diretor, Gomes Machado admirava “os esforços sinceramente modestos e, por isso, esplendidamente fecundos” (Machado, 1949, p. 178) em relação à pesquisa sobre arte e arquitetura.
A parceria entre Machado e o Iphan se prolongou no tempo, até o falecimento prematuro do crítico em Milão em 1967, quando era diretor de Assuntos Culturais da Unesco. Dessa colaboração foram testemunhas suas recorrentes associações intelectuais às teses do Instituto do Patrimônio, publicadas em artigos que redigiu sendo responsável da Seção de Arte do Suplemento Literário de O Estado de São Paulo (1956-1962), e também o apoio que ofereceu à instituição para desenvolver projetos junto à Unesco para a preservação do patrimônio cultural brasileiro, assim como a autoria de um texto de defesa da restauração que o Iphan realizou no conjunto arquitetônico e escultórico de Congonhas do Campo durante a década de 1950.4
No quadro da produção de Machado sobre Minas Gerais se observam excertos que servem para identificar proximidades das suas teses com as do Iphan. No artigo Originalidade da arte mineira reconhecia “a originalidade da versão mineira do barroco [...]: ainda é o barroco, sobretudo se atentarmos para a formalística decorativa, onde encontraremos as mesmas linhas, ritmos e princípios de composição europeus, mas já é um barroco diferente” (Machado, 1949, p. 117-118). A conclusão ia ao encontro do pensamento do diretor Rodrigo Melo Franco de Andrade: “o que sucedeu, ali [na arte religiosa mineira da segunda metade do século XVIII], foi um surto original, perfeitamente caracterizado, como Lucio Costa observou, distinto das manifestações equivalentes, contemporâneas, nas demais regiões do país ou da antiga metrópole” (Andrade, 1969?, p. 42, grifo nosso).5 Originalidade, valor destacado em diversos textos do órgão, que se traduzia no surgimento de uma produção que, com raízes lusitanas, se tornou brasileira. Essa originalidade teria se dado a partir da ação de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, artista mineiro, cuja produção se localiza em Minas Gerais na virada do século XVIII para o XIX, e que foi interpretado como a representação da miscigenação racial e cultural, assim como a apoteose artística do Brasil. Sua valorização se deu primeiro pelos modernistas, sendo a sua consolidação como figura mítica do nascimento de uma identidade nacional um processo que envolveu a ação do Iphan e a de Machado, e que teve como um dos seus momentos de consagração a publicação dos livros de Bazin.
Em outubro e novembro de 1956, coincidindo com a publicação do primeiro tomo do livro L´Architecture do autor francês, Machado escreveu artigos para o Suplemento Literário de O Estado de São Paulo, que não poupavam o texto do curador-chefe do Louvre de objeções. No primeiro, Em busca de um sistema (Machado, 1956b, p. 14), outorgava a Bazin o título de “sistematizador pioneiro da arquitetura colonial brasileira”, uma tarefa que definia como de necessidade urgente, por servir de “imprescindível referência de contexto, às boas pesquisas monográficas” (Machado, 1956b, p. 14).
A ênfase colocada pelo crítico paulista no trabalho organizativo, “sistematizador” de Bazin pressupunha a existência de uma tarefa prévia de produção de conhecimento, elaborada por aqueles que tinham se dedicado nacionalmente a essa empreitada. E se Machado não fazia menção à sua própria obra, advertia àqueles que podiam desconfiar do resultado obtido pelo curador-chefe do Louvre que o ponto de partida de qualquer trabalho de pesquisa e síntese – a delimitação dos casos representativos e do corpo de documentação primária e referências secundárias – tinha sido “bem fundado” pelo fato do autor francês ter se debruçado “nos arquivos da DPHAN, nas investigações de seus especialistas, na suma de seus trabalhos” (Machado, 1956b, p. 14).
Machado reconhecia no artigo a contribuição de Bazin; contudo, não deixava de apontar ora o que considerava “limitações interpretativas”, que atribuía a um “policiamento autoinfligido”, ora uma falta de rigor na análise. Em relação ao século XVIII, por exemplo, este período, longe de ser isento de conflitos, como afirmava o historiador francês, seria para Machado “uma realidade nacional a esboçar-se”, reforçando a constituição de um marco identitário no qual o barroco brasileiro começava a se separar do europeu, passando a ser “nosso”, a “nossa afirmação”. O crítico advertia, também, como, apesar da sua vontade de exatidão, Bazin “afrouxa o rigor [em algumas análises], cedendo a europeísmos críticos”, ao associar reiteradamente a obra do Aleijadinho ao rococó ou ao se coadunar sentimentalmente às manifestações sobre a doença do artista (Machado, 1956b, p. 14, grifo nosso). Para Machado, Bazin teria conseguido, no entanto, colocar o “Aleijadinho em seu verdadeiro posto, que não é o de um fabuloso inventor, gratuito e inexplicável, mas o do criador genial que coroa uma evolução erudita e sólida, embora temporalmente breve”. No seu intuito de chancelar o livro, relativizava as possíveis inexatidões que indicava na obra ao afirmar ser a vontade de Bazin “antes de mais nada, sistematizar” (Machado, 1956b, p. 14). Com a sua lógica argumentativa, Machado, além de salientar o desabrochamento de uma arte brasileira, como o Iphan, promovia uma dupla chancela: se o trabalho de Bazin era praticamente inquestionável pelo fato de ter-se fundamentado nas bases fornecidas pelo instituto –cujos pesquisadores são “quase os únicos a saber” sobre o assunto–, este, por sua vez, era legitimado pela preponderância do lugar de fala do curador-chefe do Louvre, situação importante, pois a expertise do órgão nacional era questionada por alguns pelo viés “oficial” ou “oficioso” que se lhe atribuía (Machado, 1956b, p. 14).
Ao dar continuidade à análise, no artigo O que o Aleijadinho não fez (Machado, 1956c, p. 14), e para fortalecer a linha reivindicativa do trabalho do Iphan, Machado recuperava a querela estabelecida durante as décadas de 1920 e 1930 pelo antigo diretor do Arquivo Público Mineiro, Theophilo Feu de Carvalho, que questionava como arbitrária a atribuição a esse artista de numerosas talhas e esculturas. Machado defendia que a superação do questionamento iniciado por Carvalho tinha se dado a partir da revisão realizada pelo Iphan da biografia sobre o Aleijadinho escrita por Rodrigo Bretas, Traços biográficos relativos ao finado Antônio Francisco Lisboa, distinto escultor mineiro, mais conhecido pelo apelido de Aleijadinho (1858). A revisão deste texto tinha sido elaborada por Judite Martins, secretária de Melo Franco de Andrade, apoiada na pesquisa documental desenvolvida por Sílvio de Vasconcelos (Machado, 1956c, p. 14), chefe do 3º Distrito do Iphan em Minas Gerais. O escrito de Bretas – cabe indicar que este autor era bisavô do diretor Rodrigo Melo Franco de Andrade – foi realizado no estilo encomiástico característico do século XIX, foi basilar para a construção historiográfica promovida pelo Iphan, e é citado como fonte nos livros de Germain Bazin.
Machado também destacava no seu artigo, ao reivindicar o livro de Bazin, a construção identitária que ele mesmo apoiava: “Germain Bazin afirma que o Aleijadinho praticou um ‘rompimento com todos os hábitos da província mineira e da arte luso-brasileira, trazendo um tipo absolutamente novo’ (p. 91)” (Machado, 1956c, p. 14). E, ao mesmo tempo que confirmava a maioridade da arte do país a partir da chancela do autor francês, recorria a este para convalidar a entrada do Aleijadinho no panteão dos criadores universais:
E a tese [de Bazin], longa e minuciosamente demonstrada, irá concluir-se com um dos mais elevados títulos jamais conferidos, com base inegável e cabal justificação, à arte brasileira: ‘Entre os monumentos do Ocidente, São Francisco de Ouro Preto é talvez um dos mais perfeitos, um destes em que tudo foi concebido por um só homem e que assim lhe reflete a ideia original sem alteração; arquiteto e escultor, o Aleijadinho criou esse monumento em sua totalidade plástica [...] mesmo na Itália, onde tantos artistas foram, ao mesmo tempo, arquitetos, pintores e escultores, não existe um monumento em que se exprimam assim todos os aspectos da concepção singular de um homem de gênio’ (Machado, 1956c, p. 14, grifo nosso).
Machado continuava identificando as loas de Bazin ao artista mineiro, o “mais exaltado elogio feito ao Aleijadinho”, todavia, calculadamente, a partir da segunda metade do artigo, revelava “senões graves” (Machado, 1956c, p. 14) que podiam ser detectados no trabalho, especificamente erros na atribuição ao artista da varanda lateral da igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, que era, na realidade, um adendo posterior. Condescendente, o crítico atribuía o equívoco à falta de convivência diuturna com o monumento, conhecido por Bazin mais de 10 anos antes da publicação do livro, e ao embasamento da análise no levantamento de Paulo Santos,6 “exato e minucioso”, mas que refletia a intervenção realizada posteriormente à construção dirigida pelo Aleijadinho. Neste artigo existe um jogo de contrastes destinado a mostrar a imparcialidade do crítico: se por um lado os elogios a Bazin eram claros, por outro as críticas foram contundentes, embora remetessem a um ponto muito específico das suas conclusões.7
Desde a sua própria posição de destacado estudioso que ocupava espaços de fala institucional preponderantes, como os da USP, o que lhe conferia uma aura de preciosismo crítico, a chancela concedida ao trabalho do Iphan era a que se revelava plenamente no texto de Lourival Gomes Machado. A dupla perspectiva, de crítica e reconhecimento, aliava-se à defesa do Iphan nos seus artigos. E tal contribuição foi necessária por conta dos ataques às construções identitárias fomentadas pela instituição do patrimônio que eram realizados por Augusto de Lima Junior.
O jornalista, poeta e escritor mineiro Augusto de Lima Junior (1889-1979)8 já foi caracterizado no mínimo como “extravagante” pela virulência que marcou seus confrontos com aqueles que não compartilhavam do seu pensamento. Bauer deixa entrever que os ataques de Lima Junior ao Iphan seriam consequência da disputa pelos lugares de autoridade oficiais no campo da preservação do patrimônio cultural (Bauer, 2015, p. 60). A desavença teria surgido da escolha do também mineiro Rodrigo Melo Franco de Andrade para a direção do Instituto do Patrimônio ao invés de Lima Junior. Não obstante, em um início este colaborou com a Revista do Patrimônio com os artigos Ligeiras notas sobre arte religiosa no Brasil (1938) e A Congregação do Oratório e suas igrejas em Pernambuco (1945), e, na sua primeira contribuição, Lima Junior comemorava a ação do Iphan, destacando o “dedicado esforço” do seu “distinto patrício e amigo Rodrigo Mello [sic] Franco de Andrade para salvar os destroços das inestimáveis riquezas artísticas que possuímos” (1938, p. 139).
Filiado ao Instituto Geográfico e Histórico de Minas Gerais, as interpretações do passado que Lima Junior defendia provinham da cultura historiográfica presente nessa instituição, que ressaltava a ação dos agentes mineiros na construção da Nação, e a uma perspectiva de caráter revisionista, pautada na análise apurada dos documentos e orientada por Salomão de Vasconcelos.9 Assim, o pensamento histórico de Lima Junior, longe de ser individual, se aliava ao seu pertencimento a lugares de produção de conhecimento que defendiam projetos intelectuais específicos (Ferreira, 2014, p. 25). O seu envolvimento com a construção de uma memória que referendava o papel de Minas Gerais, e especificamente da Inconfidência Mineira10 como episódio fundamental da construção de uma narrativa do nacional, ficou evidente no projeto apresentado por Lima Junior ao presidente Getúlio Vargas para repatriar os restos mortais dos heróis inconfidentes, o qual se materializou ao final de 1936. E, sendo a Inconfidência Mineira central na construção historiográfica propulsada por Lima Junior, a figura que poderia demonstrar os valores requeridos para a construção identitária do país não era, ao seu entender, a do Aleijadinho,11 claramente escolhida para este fim pelo Iphan, mas a do herói pátrio Tiradentes.12
Cabe destacar que, no contexto do governo de Getúlio Vargas, tanto a Inconfidência Mineira quanto o Aleijadinho foram entendidos como vetores que podiam superar as diferenças regionais em prol de um sentimento nacional homogeneizante. A primeira porque nela se originariam “os sentimentos de patriotismo e civilidade que guiariam o país por caminhos seguros” (Ferreira, 2014, p. 87), e o artista mineiro porque através dele era possível uma narrativa que apoiava os projetos políticos apaziguadores e interpretações culturais que neutralizavam as tensões de uma sociedade descendente da escravidão. Na discordância de interpretações sobre o mito que devia ser considerado como a origem para um Brasil que se pretendia homogêneo e sem conflitos se estabeleceram as condições para um enfrentamento entre Lima Junior e Rodrigo Melo Franco que se prolongou por décadas.
Entre as duas colaborações com a revista do Instituto do Patrimônio, Lima Junior publicou O Aleijadinho e a arte colonial (1942). Nesta obra, o jornalista se propunha desmitificar o Aleijadinho através da pesquisa em arquivo (1942, p. 15), assim como destacava a atividade de outros artistas coloniais que teriam sido negligenciados nos estudos sobre a arte brasileira, insinuando uma ação apologética, embora não acusasse concretamente a ninguém de fazê-la, em prol da valorização da arte de Antônio Francisco Lisboa (1942, p. 14).
Conforme Ferreira, o Aleijadinho era entendido por Lima Junior como “uma construção ideológica, pautada em sua etnia e biologia, [sendo que] o interesse por este ‘artista genial’ é movido por aspectos nativistas, que ansiavam por um herói representante da população” (Ferreira, 2014, p. 107, grifo nosso). No texto, o autor rejeita a originalidade da obra do Aleijadinho e de outros artistas de Minas Gerais, por considerá-la, no caso dos retábulos, por exemplo, “mais ou menos cópias de modelos portugueses sem nenhuma participação local a não ser talvez, na adaptação de dimensões ou emprego de materiais locais” (Lima Junior, 1942, p. 71), arrematando “Não se encontra nesses trabalhos um único motivo de inspiração regional, qualquer cousa de próprio, enfim, que determine a certeza de um sentimento artístico local”.
Não obstante, o livro sobre o Aleijadinho de 1942 não expressa ainda animosidade contra o Iphan, sendo que o instituto é mencionado por Lima Junior como responsável por algumas pesquisas que embasam as suas próprias conclusões sobre a preponderância do artista João Gomes Batista para a arte mineira (1942, p. 121). Já em 1948, encontramos uma menção concreta a Augusto de Lima Junior por parte de Rodrigo Melo Franco de Andrade que é indício de atritos entre eles. O primeiro tinha contestado veementemente a atribuição da autoria ao Aleijadinho de uma imagem de São Jorge. E o diretor do Iphan considerava infundada e improcedente essa impugnação, tanto por entender insuficiente a argumentação de Lima Junior, quanto por a escultura sacra apresentar características estilísticas próprias das obras do Aleijadinho (Andrade, 1948, p. 134). Melo Franco de Andrade também indicava, para justificar a autoria, que a imagem tinha sido identificada por Rodrigo Bretas como pertencente à produção do artista mineiro. Todavia, para Lima Junior, essa fonte não era legítima, já que apontava desde 1942 incongruências temporais na construção narrativa de Bretas, a quem acusava de se basear em informação oral não comprovada (1942, p. 53) e de ter utilizado fontes forjadas (Ferreira, 2014, p. 162-166).
Lima Junior continuou suas polêmicas manifestações contra o Iphan, ao entender que a instituição construía uma figura referencial da identidade nacional baseada em falsidades, assim como promovia a valorização das obras atribuídas ao Aleijadinho em detrimento das de outros artistas coloniais. E não se contentando com o campo da história, quase uma década depois, as invectivas continuaram com críticas de Lima Junior às restaurações empreendidas pela equipe técnica dos restauradores do Iphan nas figuras religiosas dos passos de Congonhas do Campo13 atribuídas ao Aleijadinho:
Recentemente foram essas figuras – as dos passos – repintadas, mas com erro nas cores dos trajos e com tintas inadequadas a esse fim, prejudicando inclusive, o simbolismo das cores primitivas, que davam muita eloquência, a essas figuras. Até nisso se verifica a incompetência desidiosa dos que, ignorantes e arrogantes, têm, à custa dos cofres públicos, prejudicado o que nos ficou de nossos melhores tesouros artísticos e históricos (Lima Junior apud Machado, 1958, p. 48).
Machado advertia em 1958 a obrigação que o compelia a contestar Lima Junior, pois
[...] num meio muito pouco informado ainda, no qual o público interessado sempre cresce, porém permanece provisoriamente despercebido de aspectos históricos e técnicos tratados apenas por um pequeno grupo, a prosa de um elemento perturbador pode eventualmente ser acolhida como opinião digna de respeito e crédito, pois que não se lhe oferece, afinal, nenhum contraste (Machado, 1958, p. 48).
No artigo, Lourival Gomes Machado acusava o “ódio por uma figura excepcional de nossa arte [o Aleijadinho]” que demonstrava Lima Junior, e a necessidade de desmascarar “outros ódios e intenções” que se encontravam por trás das suas palavras. O crítico paulista sinalizava a “infâmia” das afirmações, reclamando das “extravagâncias” de Lima Junior, cujos “disparates surgem como envoltório duma maldade duma atroz injustiça, qual seja a de insinuar incompetência e malversação ao falar do DPHAN, esse serviço exemplar que deveria ser erigido em modelo de competência, dedicação e probidade, para toda a administração nacional” (Machado, 1958, p. 48).
Machado voltou a analisar a obra de Bazin em Sistema e Repertório (Machado, 1959, p. 42), por motivo do lançamento do Tomo II sobre arquitetura em 1958. Esta vez, iniciava o artigo criticando de forma firme o livro, no qual identificava uma síntese abalada, atribuída, novamente, ao afastamento físico de Bazin do objeto estudado. Retirava, simultaneamente, qualquer tipo de responsabilidade do Iphan nas deficiências detectadas por ele no livro, já que o instituto fora o provedor da “fonte principal, sempre pura e surpreendentemente farta” (Machado, 1959, p. 42) em que se nutriu o trabalho do curador-chefe do Louvre. Contudo, tentando remarcar que considerava sem sentido dar continuidade a qualquer polêmica sobre a obra de Bazin, finalizava advertindo que o livro “deverá permanecer como referência forçosa para todos os estudiosos da nossa arquitetura”, constituindo-se em obra que tem “consistência e utilidade bastante para suportar tais e até outras restrições, sem desmerecer o lugar que, por seus próprios títulos, veio a ocupar em nossa bibliografia especializada” (Machado, 1959, p. 42). Machado arrematava:
[...] será fácil compreender a importância da contribuição trazida por um estrangeiro que, afinal, outros objetos poderia encontrar para a sua análise e sua crítica, não fora a força de sedução dessa arte para cujo conhecimento se dispôs a trabalhar num nível e com uma obstinação capazes, por si sós, de transformar-nos em seus gratos devedores (Machado, 1959, p. 42).
Depois de uns anos, o crítico paulista reacendia o embate com Lima Junior no artigo O canto do Sabiá, de março de 1963 (Machado, 1963, p. 14). A animosidade com o escritor mineiro se ativava desta vez pelo questionamento que este fazia à atribuição ao Aleijadinho dos púlpitos da igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto, situação que atingia diretamente a autoridade do próprio Machado, que sete anos antes, em 1956, tinha publicado o artigo Os Púlpitos de São Francisco de Assis de Ouro Preto. Influência de Lorenzo Ghiberti na obra de Antônio Francisco Lisboa. Neste trabalho, o autor levantava “o problema dos modelos artísticos no Brasil colonial”, e reconhecia a genialidade do Aleijadinho que, teria transformado os “modelos” em “inspiração”, superando o próprio Ghiberti, cuja obra artística nas portas do baptistério de Florença, teria sido o referencial “reelaborado, refundido, recomposto” pelo Aleijadinho para os púlpitos da igreja de São Francisco. Para Machado, o artista mineiro conseguiu “uma transfiguração da peça inspiradora que, ao invés de servir como modelo de cópia, vale como modelo de criação artística, e, pois, como instigador da imaginação criadora” (Machado, 1956a, p. 249).
No artigo mencionado, Lourival também reagia às acusações de Lima Junior que o indicavam como partícipe em conluios com o Iphan para valorizar inadequadamente o Aleijadinho, e sarcasticamente, lhe lançava um desafio:
Aguardo, tranquilo, que sobre essa mesma mesa onde [Lima Junior] diz encontrar-se a famosa documentação com que ameaça a tudo e a todos [...] venha um dia a compor-se o rol das obras todas geniais e ligadas por uma mesma e coerente estilística pessoal, que os tolos ‘industriais’ do ‘mito’ até hoje atribuíram ao Aleijadinho (Machado, 1963, p. 14, grifo nosso).
A provocação se devia a que Lourival Gomes Machado sabia que a relação das obras atribuídas ao Aleijadinho seria publicada uns meses depois, dentro do livro que Bazin concluía sobre o artista mineiro à época.
Preparando a opinião pública para a aceitação do livro Aleijadinho et la sculpture baroque au Brésil, foi no número 28 da revista dos Diários Associados, O Cruzeiro, onde a principal voz do Iphan se aliou com grande contundência à do autor francês para responder a Lima Junior. Em abril de 1963, Melo Franco de Andrade publicou, nesse meio, Na paz das serranias guarda-se o tesouro do gênio barroco (Andrade, 1963, p. 83- 84), algumas páginas antes de um escrito de Bazin.
No seu artigo, o diretor Melo Franco de Andrade lembrava “as polêmicas mais ou menos acrimoniosas” (Andrade, 1963, p. 84) que outrora se levantaram sobre a atribuição ao Aleijadinho de inúmeras esculturas, advertindo que aquelas controvérsias “há pouco deram mostras de ressurgimento” (Andrade, 1963, p. 84). Sem mencionar qual seria a origem das críticas contemporâneas, sustentava que, depois do trabalho realizado em fontes documentais nos últimos vinte e cinco anos – fazendo assim referência ao período da pesquisa estimulada pelo Iphan –, ao qual se somava “a análise acurada dos caracteres estilísticos [da produção do Aleijadinho]” era impossível que existisse “a mínima dúvida acerca da procedência das atribuições das obras principais que já eram acreditadas a Antônio Francisco Lisboa” (Andrade, 1963, p. 83- 84). O texto mostrava a reivindicação de um território, o da identificação da autoria, que não apenas se sustentava na documentação analisada, mas incorporava técnicas de validação aplicadas por especialistas do órgão de preservação,14 o que insinuava uma autoridade incompleta por parte daqueles que não possuíam a expertise técnica que tinham os peritos do Instituto do Patrimônio. E, se nessas linhas, não foi mencionado aquele ao qual podia estar dirigido o discurso, umas páginas depois, a identidade se revelava pelo artigo de Bazin.
O texto de Bazin em O Cruzeiro era a resposta à polêmica sobre o artista mineiro que cobrara impulso, novamente, através de Augusto de Lima Junior. Este reivindicava as suas teses à época não apenas com suas manifestações em conferências e em diversos veículos jornalísticos ou com a colaboração de escritores pertencentes aos seus mesmos espaços de sociabilização profissional.15 No início do mesmo ano do lançamento do livro de Bazin sobre o Aleijadinho, Lima Junior fundou a Revista de História e Arte, a qual tinha como mantenedores e colaboradores intelectuais dos institutos de cultura histórica mineira, tais como o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, a Academia Mineira de Letras ou o Arquivo Público Mineiro, assim como membros do exército dedicados à produção histórica (Ferreira, 2014, p. 102). O empreendimento pretendia “restaurar a verdade histórica” nos moldes interpretados por essas instituições, e os estudiosos vinculados a ela objetivavam, segundo Ferreira, instituir “um campo intelectual favorável, a partir do qual o ideário político e cultural do grupo pudesse se difundir sem quaisquer intromissões dos pretendidos antagonistas” (Ferreira, 2014, p. 105).
Lima Junior difundiu no número Prospecto da revista não apenas uma linha editorial de confronto com o Iphan, dando continuidade à intenção de “desmitificar” o Aleijadinho, mas fazia alusão negativa a Bazin no texto O mito do Aleijadinho na História de Minas Gerais (1963). No artigo, Lima Junior lançava um ataque, que, se no início apenas parecia estar dirigido ao Instituto do Patrimônio (Lima Junior, 1963, p. 5), depois se voltava diretamente contra o curador-chefe do Louvre:
Antônio Francisco Lisboa, nunca foi escultor de imagens, nem projetista de templos etc. isso é pura broma, custeada pelos cofres do Ministério da Educação e outros inocentes úteis. Custa a crer como o Sr. Germain Bazin conhecendo todas essas coisas que aí estão, por amor aos proventos que recebeu e recebe para emprestar o nome francês (e que nome: Bazin!) a uma mistificação tramada em torno de um mito, tenha escrito as infidelidades que escreveu em seu livro (por outros títulos magníficos) sobre o mito que ele sabia ser mito (Lima Junior, 1963, p. 8).
Nesse número da revista, para fazer o quadro ainda mais complexo, se publicavam textos de Salomão de Vasconcelos,16 colaborador do Iphan em Minas Gerais desde o final da década de 1930, nos quais levantava dúvidas sobre a identidade de Antônio Francisco Lisboa.
No número 28 de O Cruzeiro, Bazin contestava diretamente o polemista ao manter o motivo da querela no título da sua matéria: O mito do Aleijadinho (Bazin, 1963b); nela respondia os pontos levantados pelo questionador e advertia que o conflito era de caráter “subjetivo”, especificamente com Rodrigo Melo Franco de Andrade a quem Lima Junior acusava não apenas de contribuir com a difusão das inexatidões de Bretas, mas até de “destruir ou esconder os documentos que provam as tretas do seu bisavô” (Lima Junior, 1963, p. 8).
Sem fazer menção às afrontas pessoais que o autor mineiro esgrimira contra ele no prospecto da Revista de História e Arte, no qual manifestava em clara alusão ao Iphan e a Bazin que o Aleijadinho era um bom negócio “para os vigaristas da História e da Arte, nacionais e estrangeiros” (Lima Junior, 1963, p. 5), o autor francês defendia o seu métier de historiador, a sua expertise profissional, frente à produção de cunho “jornalístico”, sem metodologia de pesquisa histórica, com a qual Lima Junior, segundo ele, esgrimia a sua posição (Bazin, 1963b, p. 99).
O curador-chefe refutava com inúmeras citações documentais os dizeres do mineiro e até reproduzia em imagens partes dos contratos que teriam sido assinados pelo Aleijadinho, como mostra da sua familiaridade com os documentos que embasaram a sua pesquisa (Bazin, 1963b, p. 99). Acusando Lima Junior de “impressionável”, situação que permitia até duvidar de situações das quais este se colocava como testemunha direta, Bazin o desafiava a consultar as publicações do Iphan. Com elegância irônica, fazia referência à publicação n. 15 do instituto de 1951, a qual, com o título Antônio Francisco Lisboa - O Aleijadinho, reeditava o tão questionado texto de Rodrigo Bretas (Bazin, 1963b, p. 101).
Estabelecendo um ponto final na controvérsia, Bazin era taxativo a partir da documentação que apresentava: “Assim, aí está o Aleijadinho elevado à categoria de mito. Exatamente como Homero, Shakespeare, Molière ou Napoleão. É o pináculo da glória. Ao grande artista brasileiro, Augusto de Lima Junior, pensando destruir, trouxe a consagração suprema” (Bazin, 1963b, p. 101). E a sua consagração era suprema por universal como demostram as personalidades da cultura e da história ocidental com as que o autor francês o equiparava. A escrita do curador-chefe do Louvre conferia ao labor do Instituto do Patrimônio um caráter absolutamente legítimo e a dimensão que esta validação assumia a partir da publicação em O Cruzeiro era, podemos estimar, bastante eficaz, desde o ponto de vista da sua ampla divulgação, não apenas em âmbito nacional, mas também latino-americano.17 Como de costume, a notícia foi repercutida nos outros veículos dos Associados, fortalecendo a perspectiva apresentada por Bazin e Melo Franco de Andrade.
Com intuito reivindicativo, o diretor do Iphan, ao regressar da Europa com um exemplar do livro sobre o Aleijadinho, recebido durante o lançamento em Paris, em dezembro de 1963, informava em reportagem o destaque alcançado pela obra na França (Obras do Aleijadinho, 1964, p. 8). Salientava que, durante visita à sede da Unesco, constatou “o grande interesse que ali se dedicava ao livro do Aleijadinho, tido como obra de grande valor informativo e educativo sobre a arte barroca na América” (Obras do Aleijadinho, 1964, p. 8). A validação pelo órgão internacional, contudo, pode não causar assombro, pois Lourival Gomes Machado era o diretor do Departamento de Assuntos Culturais da organização à época, complementando com uma chancela internacional a defesa da ação do Iphan que iniciara uns anos antes.
Rodrigo Melo Franco também realizou uma análise pormenorizada sobre Aleijadinho et la sculpture baroque au Brésil e a publicou na Revista do Livro, no Rio de Janeiro (Andrade, 1964, p. 167-173). As palavras, corteses, definiam o estudioso francês como sistematizador de trabalhos alheios, podendo se observar assim uma sintonia com comentários anteriormente vertidos por Machado. Mas, se rendia, com delicadeza, ante o Catalogue Raisonné, que constava na obra, elaborado pelo curador do Louvre:
Esse elemento constitui uma das mais valiosas contribuições de Germain Bazin para o conhecimento do acervo de obras de arte antiga no Brasil. Bastaria a elaboração desse catálogo para assegurar nosso reconhecimento à benemerência do autor. É um complemento substancial que enriquece extraordinariamente a obra publicada e suscita, assim como diversas passagens do próprio texto do volume, observações dos interessados e conhecedores da matéria (Andrade, 1964, p. 173).
Conclusões
A partir das discussões protagonizadas por Machado e Lima Júnior, que envolveram também respostas de Bazin e Melo Franco de Andrade, identificamos embates entre intelectuais que pretendiam fazer hegemônicos seus discursos historiográficos, assim como apoiavam diferentes construções discursivas sobre a identidade brasileira. Embora ambas as posições estabelecessem a gênese da identidade brasileira no século XVIII, centrada em Minas Gerais, a estabelecida pelo Iphan foi configurada em torno do Aleijadinho como figura mítica da miscigenação, pioneiro da ruptura com a metrópole e inaugurador de uma arte própria, tese que era compartilhada por Lourival Gomes Machado e confirmada por Germain Bazin.
Lima Junior interpretava o nascimento da civilização brasileira na Inconfidência Mineira, sendo a figura mítica por ele proposta o Tiradentes. A agressiva veemência da fala de Lima Junior, que atingia os responsáveis da construção identitária promovida pelo Iphan, muitas vezes é a justificativa para invalidar totalmente o seu discurso, mas a sua voz não foi solitária. Lima Junior colocou seu raciocínio historiográfico no fundamento das suas discussões, com o intuito de legitimar as asseverações dos espaços de sociabilização intelectual e cultural mineiros aos quais pertencia.
No jogo de acusações e defesas que atravessou esta disputa, foram ativadas as redes de sociabilidade de ambas as partes, com a utilização de suportes que funcionaram como plataformas de reinvindicação dos discursos. Pelo lado de Lima Junior, além de publicações em jornais e manifestações em diversos eventos, foi concebido um veículo próprio, a Revista de História e Arte, na qual se amplificaram os ataques. O Iphan fez visível a disputa em espaços que superavam o alcance restrito aos especialistas. A sociedade com Assis Chateaubriand, articulador do financiamento e editoração dos livros do autor francês, permitia que a máquina de difusão dos Diários Associados se colocasse ao serviço da propagação dos conceitos defendidos pelo instituto. E, claramente, a querela não foi expressa na Revista do Patrimônio, locus no qual se pretendia uma incontestável seriedade científica: a ausência de qualquer comentário sobre a disputa neste meio, interpreto, insinuava a irrelevância das ideias de Lima Junior. Por outro lado, o instituto contou com a ação eficaz de intelectuais com os quais compartilhava os seus argumentos historiográficos, e que transitavam entre o meio acadêmico e a divulgação jornalística, como Lourival Gomes Machado, que sem ser obsequente com a obra de Bazin, promoveu a legitimação dos seus discursos e da ação do órgão do patrimônio.
A expertise da equipe técnica do Iphan foi destacada por Melo Franco de Andrade como uma forma de validar o discurso da instituição, não apenas pelo apurado trabalho arquivístico e interpretação documental que realizava, mas também pela aplicação de uma análise estilística que somente os arquitetos ou artistas vinculados ao órgão podiam fazer. Lima Junior, pensemos, possuía prestígio em certos âmbitos intelectuais, e reforçar a autoridade técnica do Iphan podia ser uma forma de debilitar seu discurso contra o Aleijadinho.
Além disso, a articulação de um projeto junto a Germain Bazin possibilitou a legitimação internacional da arte colonial brasileira e da figura do Aleijadinho. Cabe destacar que a “benemerência” atribuída por Rodrigo Melo Franco de Andrade a Germain Bazin, já mencionada, não foi apenas pelo autor francês merecer os louvores por uma obra definida como “excepcional” pelo diretor, mas também no sentido da sua contribuição com a causa do instituto. O catálogo raisonné foi uma peça fundamental para o reconhecimento da autenticidade das esculturas atribuídas ao Aleijadinho, autenticidade que justificava com provas materiais a existência do artista, alicerce do discurso identitário promovido pelo Iphan e tantas vezes questionado por Lima Junior.
Finalmente, pode-se refletir em relação à eficácia da canonização do Aleijadinho como representação do Brasil empreendida pelo Instituto do Patrimônio durante a gestão de Melo Franco de Andrade. A confirmação do barroco e da mestiçagem representados pelo Aleijadinho como essência da arte e do ser nacional brasileiro chegou à década de 1980 sem grandes questionamentos. Nessa década, com a ação dos órgãos municipais e estaduais de preservação, começou a ampliação do leque conceitual e temporal do que podia ser definido como patrimônio. À época se iniciava também a valorização federal de bens de origem afro, a partir do tombamento do terreiro da Casa Branca e da Serra da Barriga (1986). Contudo, para estudiosos como Marins, até as primeiras décadas do século XXI existe “um reconhecimento lento das fraturas e diferenças que constituem o país” (Marins, 2016, p. 26), desigualdades que o Iphan pretendeu obliterar a partir da figura apaziguadora do Aleijadinho. A mestiçagem invocada pela imagem deste artista ainda ofusca outras formas de síntese que poderiam ser evocadas para compreender a complexidade cultural do país. Neste sentido, Marins indica a ausência de tombamento de espaços dedicados a religiões de matriz afro que promovem o sincretismo, como a Umbanda (p. 24). E ainda existe, segundo este autor, dificuldade em incorporar de forma completa a memória de outros grupos humanos constituintes da sociedade brasileira, como os imigrantes e os indígenas, ao corpus patrimonial material. O anterior é herança do discurso eficaz que foi construído e consolidado durante a gestão de Melo Franco de Andrade, e em cuja consagração e reprodução contribuíram, e ainda contribuem, as obras de Germain Bazin.
1. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mudou de nome no decorrer do tempo: pelo Decreto Lei n. 25, 1937, se chamou Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 1946 passou a se denominar Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DPHAN) e em 1970 adotaria a nomenclatura de Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Neste artigo é adotada a denominação Iphan, salvo nas citações textuais de outros autores, nas quais respeitamos a nomenclatura utilizada. Para aprofundar na história do Iphan, consultar a ampla bibliografia dedicada ao período inicial da instituição, por exemplo, Chuva, M. R. R. (2009). Os arquitetos da memória: sociogênese das práticas de preservação do patrimônio cultural no Brasil (anos 1930-1940). Rio de Janeiro: Edições UFRJ; Fonseca, M. C. L. (2005) O patrimônio em processo: trajetória política federal de preservação no Brasil. Rio de janeiro: UFRJ/MinC/Iphan.
2. A primeira publicação dos livros foi realizada em francês, indicando esta língua que o objetivo das obras era a consagração em nível mundial da arte colonial brasileira, e especificamente do Aleijadinho. O livro dedicado ao Aleijadinho foi traduzido e publicado em português no ano de 1971, já o concernente à arquitetura, em dois tomos, o foi em 1983. Ambas as publicações foram editadas pela Record. Consultar o texto de Uribarren, María Sabina. Parcerias e aspectos materiais da primeira edição dos livros sobre o barroco brasileiro de Germain Bazin. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 30, p. 1-50, 2022, para ampliar a história da produção destas obras. Os trabalhos que analisam as contribuições de Bazin para a história da arte brasileira são escassos, citamos Barroco colonizador: a produção historiográfico-artística no Brasil e suas principais orientações teóricas, de Jens Baumgarten e André Tavares (2013). Já trabalhos que seguem no encalço da produção do expert francês são mais frequentes, como os estudos de Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira sobre o colonial.
3. A história da consecução dos livros de Bazin foi analisada por Uribarren, tanto no texto indicado na nota anterior, quanto no artigo de 2018 intitulado Germain Bazin e o Iphan: redes de relações e projetos editoriais sobre o barroco brasileiro. Revista CPC, São Paulo, v. 13, n. 25, p. 108-134. O aprofundamento sobre Assis Chateaubriand pode ser realizado através do artigo de Uribarren de 2022, assim como do livro de Fernando de Morais Chatô: o Rei do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
4. Para ampliar, ver Machado, Lourival Gomes (1973). Reconquista de Congonhas. In: Machado, Lourival Gomes. Barroco Mineiro. São Paulo: Perspectiva; assim como Uribarren, M. S. (2016). Contatos e intercâmbios americanos no Iphan: o Setor de Recuperação de Obras de Arte (1947-1976). São Paulo: Intermeios.
5. Referia-se Melo Franco de Andrade a conceitos vertidos por Lucio Costa, arquiteto pioneiro do Movimento Moderno no Brasil e diretor da Divisão de Estudos e Tombamentos do Iphan entre 1946 e 1972. Costa vertia essas conclusões no seu texto O Aleijadinho, publicado no n. 18 da Revista do Patrimônio (1978, p. 75-82).
6. Trata-se de O barroco e o jesuítico na arquitetura do Brasil, obra de Paulo Santos publicada em 1951 pela Editora Kosmos.
7. Com certeza o Iphan orientou as conclusões de Bazin, pois com o motivo da tradução do livro sobre o Aleijadinho ao português, em 1971, o próprio autor desmentiu afirmações feitas por ele na edição francesa. Retratou-se, por exemplo, de atribuições feitas ao Aleijadinho, como a do Cristo Flagelado do Museu da Inconfidência de Ouro Preto, imputando essa indicação ao fato de ter ficado “impressionado pela opinião dos membros do Patrimônio” (Bazin, 1971, p. 280).
8. Foi filho do homónimo Augusto de Lima, que fora presidente da Província de Minas Gerais e um dos defensores da mudança da capital de Ouro Preto para Belo Horizonte. Augusto de Lima Pai, em 1924, quando deputado federal, apresentou um projeto de lei que visava impedir a saída do país de arte tradicional (Pinheiro, 2023, p. 18). Já seu filho, o Augusto de Lima de nosso interesse, foi o responsável em 1933 pelo desenvolvimento do projeto que elevou a cidade de Ouro Preto a monumento nacional (Ferreira, 2014, p. 12).
9. Salomão de Vasconcelos foi um historiador mineiro especialista nas cidades de Ouro Preto e Sabará. Iniciou as colaborações com o Iphan na década de 1930 e na década de 1940 foi representante do Instituto do Patrimônio em Minas Gerais, e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais entre 1955 e 1958 (Chuva, 2009, p. 441). Realizou pesquisas sobre o Aleijadinho encarregadas por Rodrigo Melo Franco de Andrade.
10. Ação separatista contra Portugal acontecida em Minas Gerais e desarticulada em 1789. Seus protagonistas mormente foram exiliados.
11. Lima Junior não comungava com a escolha do Aleijadinho como figura mítica do Brasil, mas também não com a propiciação da arte moderna que realizava o Iphan, movimento que, segundo o escritor mineiro, rompia com a arte clássica, a única verdadeira e autêntica no seu discurso. Arquitetos do Iphan, como Lucio Costa, foram pioneiros do modernismo no Brasil, assim como esta expressão foi reivindicada por Machado e Bazin em diversos artigos jornalísticos (Ver Uribarren, 2018).
12. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é reconhecido pela sua participação na conspiração da Inconfidência Mineira, constituindo-se como “mártir da pátria” por ter sido o único ajustiçado com a pena de morte.
13. O Santuário de Congonhas do Campo, em Minas Gerais, está formado pela igreja, o adro dos profetas e as capelas dos Passos da Paixão. As imagens das capelas e as esculturas dos profetas são obra do Aleijadinho e seus oficiais. As atividades do artista mineiro no conjunto foram realizadas entre a última década do século XVIII e a primeira do XIX.
14. A metodologia de Comparação Estilística, ou seja, a identificação de elementos característicos da obra de um autor, foi considerada altamente confiável no caso da identificação da autoria de pinturas e esculturas. Foram desenvolvidos métodos de análise bastante respeitados como o Método Fogg, do museu universitário do mesmo nome em Harvard, onde se formou o pintor Edson Motta, chefe do Setor de Recuperação de Obras de Arte do Iphan. Para ampliar, consultar Uribarren (2016, p. 92).
15. Entre eles, Victor F. Freitas, que seria diretor da Revista de História e Arte, e publicara, por exemplo, Joachim José da Silva – ‘O Aleijadinho’ no jornal Estado de Minas em 1962.
16. São os textos: O “Ser o não ser” do Aleijadinho de Vila Rica e O porquê da lenda.
17. Em 1928, Chateaubriand projetava vender 50.000 exemplares semanais da revista, mas a tiragem de O Cruzeiro alcançou 370.000 exemplares semanais em 1952, conseguindo a sua máxima edição, 720.000, por conta do número especial dedicado ao suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Entre as décadas de 1950 e 1960 foi distribuída O Cruzeiro Internacional, tradução do semanário ao espanhol.
FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Uribarren, María Sabina (2024). Espacios historiográficos en disputa: Las críticas a las obras de Germain Bazin sobre el barroco brasileño y la eficacia del discurso identitario del Iphan. Anales del Instituto de Arte Americano e Investigaciones Estéticas "Mario J. Buschiazzo". 54(2). Recuperado de . Fecha de acceso:
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